A ultima valsa.

18-03-2011 17:46

 

Lá estava ela.

 

Dentre todas ali presente, apenas uma conseguira chamar minha atenção. Com sua beleza inigualável, sua pele tão branca, e seus cabelos tão escuros quanto aquela noite.

 

Ela estava do outro lado do salão. Eu a observava atentamente, e é incrível o fato como não cansava de fazer isso. Até que, nossos olhares se encontraram. Percebeu então que eu a observara, porém não desviou seu olhar. Pelo contrário, continuo a olhar-me.

 

Fiz um gesto com a cabeça, como um comprimento. Ela fez o mesmo, então levemente levantei a minha taça de vinho, como se estivesse propondo um brinde, e novamente ela retribui meu gesto.

 

Era tão maravilhosa. Ah! Sim. Eu a queria, e como queria poder envolvê-la em meus braços, mesmo que apenas por um instante, mas certamente eu a queria muito.

 

Estava determinado, ela seria minha. Após ter tomado minha decisão, já era hora de agir, e foi ai que resolvi ir ao encontro dela. Fui me aproximando, e quanto mais me aproximava mais ansiava por tê-la, mais eufórico eu ficava. Logicamente, eu não demonstrava tal ansiedade. Por fora eu me mantive estável, calmo e sereno. Era totalmente imperceptível, não havia como ver minhas emoções, pois eu não as demonstrava com tanta clareza. Mas o mais estranho é que, lá no fundo, bem no meu interior, era como se eu sentisse que ela sabia o que eu estava sentindo, a forma como me olhava ao aproximar-me, como se até mesmo estivesse ouvindo as batidas do meu coração.  

 

- Senhorita.

- Sim.

- Concede-me essa dança? - Falei estendendo minha mão a ela.

- Primeiro tenho uma pergunta - disse ela. O que o fez vir até mim? Por que dentre todas aqui escolheste a mim?

- Por que ao meu ver, és a mais bela de todas. E nenhuma aqui presente conseguiu beleza suficiente para sequer comparar-se a sua, quanto mais para superá-la.

- E o que faz o cavalheiro pensar que eu aceitaria seu convite? A forma como prende o cabelo?

 

Confesso que nesse momento as palavras fugiram. Não disse palavra alguma, pois não sabia o que dizer, e não queria tropeçar nas palavras. Foi então que percebi que ela era muito mais do que eu imaginava, era muito mais do que apenas um rostinho bonito. O fato dela não ser uma garota fácil me motivara ainda mais a conquistá-la. A forma como ela falara, firme, inflexível, centrada. Isso com certeza fez-me querê-la mais ainda.

 

- E então? O que o fez pensar que eu aceitaria?

 

- Devo admitir que não sei. O que realmente sei é que, eu a vi, e sabia que não podia desperdiçar essa oportunidade, pois, não sabia quando teria outra oportunidade de vê-la!

- Pois bem! Convenceu-me. - Disse ela com leve sorriso.

 

Após ela aceitar, nós nos dirigimos ao centro do salão e começamos a dançar. Em meio a isso conversamos muito, e cada vez mais eu estava ficando mais fascinado por ela. A forma como ela falava, o seu jeito, era tudo tão cativante. Em meio à conversa descobri seu nome. Sara. Um belo nome, eu o guardei no fundo do meu coração, pois nunca achara ninguém tão especial quanto ela. E assim que paramos de valsar ela pediu para que fossemos um pouco para fora para que ela pudesse tomar um pouco de ar.

 

Fora do salão, ainda tomando a brisa, um silencio brutal se instalou entre nós. Silencio esse que foi ela quem quebrou.

 

- E então, o que está achando da noite?

- Estou gostando. Eu adoro essa brisa tênue.

- Concordo. - Respondeu ela. - Mas não posso deixar de dizer que também simpatizei muito com você.

 

Fiquei um tanto surpreso quando ela disse isso, pois até agora havíamos conversado muito, porém não havia dito nada semelhante, sequer deu um sinal. Meu coração se alegrou muito ao ouvir isso.

 

- Gostei de você e acho que é merecedor de receber o que vou lhe dar. Disse ela.

- Me dar o que?

 

Aproximando-se de mim então, ela entrelaçou as mãos em volta do meu pescoço. No mesmo instante coloquei minhas mãos na sua cintura. Logicamente eu achei estranha sua postura. Até pouco tempo atrás estava tão fechada, tão difícil. E agora, tão atirada, mais até do que es esperava. Mas eu seria um louco se tentasse fugir dessa situação, só mesmo um tolo para rejeitar seu beijo.

 

- Isso é para que sempre lembre de mim, pois, receio que não vamos nos encontrar novamente.

 

Dizendo isso ela me beijou.

 

Faltam-me palavras para descrever seu beijo. Por mais que eu tente, até hoje não achei as palavras certas. Mas não foi exatamente o beijo que a tornou inesquecível, mas sim o que ela fez depois. 

 

Poucos segundos após beijar-me, quando eu ainda estava tentando entender o que aconteceu, de uma forma simples e meiga com seus doces lábios ela tocou meu pescoço. Confesso que nesse momento esmoreci, minhas pernas ficaram bambas apenas dela ter tocado meus pescoço, e no exato momento quando seus lábios o tocaram, senti um arrepio na coluna. A essa altura eu estava totalmente envolvido e nada mais importava, e então ela fez seu ultimo gesto, o gesto que mudou minha vida.

 

Logo após o beijo senti uma pequena dor em meu pescoço, então percebi que ela havia me mordido. Claro, eu poderia tentar impedi-la, mas não consegui fazer isso pelo simples fato de que o prazer que eu sentira fora tão grande, tão intenso, talvez até mais intenso que o dela ao sugar meu sangue, então apenas deixei as coisas fluírem.

 


Eu comecei a me sentir fraco, e não demorou muito para que eu adormecesse. Não sei ao certo quanto tempo dormi. E isso tão pouco importa, o que me deixou pensativo no momento foi a forma como acordei. Acordei sentindo um liquido em minha boca, não sabia o que era, mas era estranha a forma como ainda na boca ele era gelado, mas após eu engolir sentia-o aquecido. Era como algo que me dava mais vivacidade.

 

Só depois de algum tempo consegui abrir os olho, e quando o fiz percebi que já não estava mais no baile, e que ela já não estava mais ali. Sem saber ao certo onde estava e ainda atordoado eu tentei ficar em pé.

 

Passei alguns dias completamente sem saber o que acontecera, mas com o tempo eu entendi tudo o que havia acontecido. Que eu não havia simplesmente desmaiado, mas havia caído no sono eterno, e ela me despertou. Que eu já não era mais o mesmo, mas agora minha vida havia se transformado.

 

Realmente, como ela me falara eu nunca mais consegui vê-la, mas ao longo dos anos além da arte arranjei novas formas de passar o tempo. E uma dessas formas foi procurá-la. Já se passaram 97 anos desde aquela noite. Há 97 anos eu procuro Sara. A mulher que me deu o abraço como vampiro e que me concedeu a ultima valsa como humano.   

 

Autor: Jesse

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